A difícil arte de se expor!

Uma das coisas mais bacanas que ouço dos meus alunos é que eles se sentem à vontade para perguntar e se arriscar em aula.
 Acredito que tenha  a ver com o fato de eu, como professora, encarar o erro com genuína naturalidade. Afinal, errar é parte do processo. Mas sentir-se seguro em aula é suficiente? E quando  o aluno estiver em um ambiente hostil? Como se desempenhar em situações adversas?
Todas essas questões me tomaram ontem, quando me vi diante de um desafio. O fato é que olhar para o erro do outro como parte do processo de aprendizagem, não me tornou mais equipada para lidar com minhas próprias vulnerabilidades. Explico:
Eu tinha um projeto muito simples à cumprir. Gravar um video de um minuto e meio, contando a dificuldade de algum aluno e como eu tinha contribuído para a solução da dúvida dele.
Parecia muito banal, até que começaram as inquietações: Será que o caso escolhido é relevante ou irrelevante? Será que  minha proposta de aprendizado é original e interessante? Estou me expressando de maneira clara? A gramática  está correta?  A pronúncia  está boa? Como  está o enquadramento? O som está baixo? Estou bem no video? Pareço  um robô falando?
Todos esses questionamentos fizeram que eu levasse 7 horas para gravar um video de um minuto que não chegou, nem de perto, ao  resultado que eu gostaria.
Essa experiência, que pode parecer tão corriqueira, teve um impacto enorme no meu ofício. Consegui verdadeiramente me colocar no lugar de tantas pessoas que sentem dificuldade em aprender um segundo idioma. É muita exposição!
Então, resolvi  listar o que  eu poderia fazer para recriar internamente aquele ambiente seguro de aula descrito por meus alunos. Afinal, não se pode ter um ambiente controlado todo o tempo!
Pensando em tudo isso,  cheguei a 3 dicas para te ajudar a se comunicar melhor e com menos sofrimento.
Dica número 1
 Não espere precisar para começar a fazer! Proponha-se pequenos desafios.  Expresse-se  no idioma estrangeiro que estuda de maneira cotidiana. Se comunique por aúdio no WhatsApp com alguém que fale Inglês, por exemplo. Você se sentirá muito mais seguro quando tiver que conversar com alguém em tempo real. Mensagens nos proporcionam tempo para assimilarmos o que foi ouvido e o que   desejamos responder. Há sempre a possibilidade de ouvir mais de uma vez o que foi colocado por seu interloctor . Percebi no meu caso que quase nunca falo Inglês com  quem tem um nível de proficiência igual ou maior que o meu, e que a falta de prática em me expor nesse cenário, fez tudo parecer mais assustador.
Dica número 2
Crie um distanciamento. Quando fazemos algo por muito tempo, aquilo passa a ser visto como insignificante. Pense em algo que você aprendeu no passado que te orgulhava e hoje você nem valoriza. Dirigir, por exemplo. Saber fazer uma baliza perfeita pode ter alimentado sua auto estima por um tempo, mas hoje não te acrescenta em nada.
O mesmo acontece com nossas conquistas intelectuais. Depois de me assistir falando o mesmo curto texto por várias horas, a mensagem me pareceu ridiculamente insignificante. Mas será que para uma pessoa q ainda não havia ouvido seria assim? Assistir ao video depois de um tempo me fez ter um olhar mais gentil para o trabalho.
Dica número 3
Não crie expectativas exageradas. A regra da escassez pode ser tanto benéfica quanto desfavorável. Quando você  se restringe, fazendo poucas inserções, você cria expectativas. Pense na seguinte situação. Você está em uma reunião onde todos falam muito, e às vezes até  simultaneamente. De repente, aquele membro do grupo mais quieto e reservado começa a falar. O que acontece naturalmente é que todos se calam para ouvi-lo. Isso acontece pela lei da escassez. Todos querem saber a opinião dele, porque é rara!
Isso pode ser precioso em diversas situações, mas pensando no aprendizado de um idioma estrangeiro, o efeito pode ser reverso. Ter a atenção e expectativa de todos pode ser excessivamente pesado e comprometedor. Afinal, falar umas coisinhas erradas no meio de muitos acertos terá um impacto muito menor do  que um deslize em um video de um minuto!
Conclusão: O fato de eu evitar expor minhas fragilidades criou uma expectativa e cobrança interna enorme. Se eu me fizesse mais presente em video, a tarefa que eu me propus teria tido o peso real dela, em vez de ter se tornado uma grande frustração. Teria sido apenas mais um video, em vez de ser “O video”.

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